Franquias: cuidar para não multiplicar problemas ambientais e sociais
Por Marcus Nakagawa*
O título pode ser chamativo ou exagerado, porém, é um alerta para as questões do desenvolvimento sustentável atreladas a este tipo de modelo de negócio: o franchising. Principalmente porque nestes recentemente muitos colegas, clientes e amigos estiveram comentando intensamente, postando fotos nas suas redes sociais e fazendo negócios na maior feira de franquias da América Latina.
Segundo a Associação Brasileira de Franquias (ABF), neste ano, a feira, em quatro dias, reuniu 65 mil visitantes e 400 negócios do nosso País e do exterior. Isto só reforça o importante movimento de crescimento do setor, que, segundo a própria ABF, mostra que neste primeiro trimestre o segmento cresceu nominalmente 9,4%, em época de saída da recessão econômica.
Escutei muitas histórias de colegas e alunos que perderam o emprego, e a solução foi investir o fundo de garantia de anos em um negócio, e nada melhor do que empreender numa marca já consolidada, com modelo financeiro montado e processos bem definidos. Ou, ainda, tiveram uma ideia, começaram desenvolvendo um negócio, depois, para poder crescer, resolveram ser franqueadores e multiplicar o seu negócio. Sim, franquia é um modelo de negócio que pode ser muito rentável e vitorioso, seja como franqueado ou franqueador, se gerido, obviamente, com muito cuidado e dedicação, sem esquecer que sempre, para qualquer negócio, haverá impactos sociais e ambientais negativos.
A ABF tem feito um movimento para promover a sustentabilidade nos negócios de franquias, inclusive, nesta última feira, para incentivar ainda mais, realizaram novamente o Prêmio ABF Estande Sustentável, que está na sua 7a edição, além de promoverem outros prêmios de sustentabilidade ao longo do ano.
O Sebrae é uma outra fonte de conhecimento para micro e pequenas empresas que estejam pensando nos seus impactos sociais e ambientais, principalmente dentro do modelo de franquia, que pode ser um ótimo disseminador destas boas práticas. No site do Centro Sebrae de Sustentabilidade existem diversos modelos de negócios mais sustentáveis, práticas e cartilhas para o dia a dia, como o pensamento no ciclo de vida do produto, gestão de resíduos, água, energia, entre outros.
Fico abismado quando imagino uma empresa de alimentos que está crescendo vertiginosamente no mercado com formato de franquia e que em seu famoso manual não exista nenhuma observação referente à gestão dos resíduos, sejam eles orgânicos, compostáveis ou recicláveis. Em pleno movimento para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos no País, uma empresa que tem o poder de multiplicar boas práticas, independentemente do local onde vá, não tendo uma linha sobre o tema. Isso sem falar na questão energética e hídrica, quando vários Estados estão com estes problemas, entre tantos outros temas das questões ambientais.
Outro ponto é a questão social em que algumas franquias, que se desenvolvem vertiginosamente, poderiam ir além das normas e regras da CLT. Puxa, será que estou sendo ingênuo ou sonhador de mais? Poderia, sim, trabalhar com questões de desenvolvimento pessoal, empreendedorismo, liderança, relacionamento pessoal, entre outras temáticas. Afinal, se franqueado e franqueador investirem nisso, talvez, realmente o negócio cresça, seja perene e não somente um local com alto turn-over para iniciantes laborais. Além disso, não podemos esquecer do poder multiplicador de influenciar fornecedores e distribuidores com as boas práticas do real desenvolvimento sustentável.
Não posso deixar de colocar aqueles negócios que já nascem com esta vertente, como as empresas que estão inserindo os orgânicos e a alimentação saudável; franquias que lavam carro quase sem água, negócios sociais que ajudam pessoas, entre outras.
Pensar somente em crescer e multiplicar produz um organismo desagradável que se espalha pelo planeta e aniquila outras espécies. Espero que este segmento de mercado, que é o franchising, entenda o poder que possui de replicar processos, negócios, marcas, produtos e serviços, e que usem este “poder especial” de multiplicação para melhorar e mitigar os impactos sociais e ambientais que todo negócio possui. Talvez, quem sabe, eliminá-los e ser um organismo de regeneração.
(*) Marcus Nakagawa é professor da graduação e pós da ESPM, idealizador e diretor administrativo da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps), consultor e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida.
Mais informações: www.marcusnakagawa.com